Páginas

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Vossa Graça.

O tempo é rei. É professor. É o amigo que dá a própria vida pela nossa. É o inimigo que nos tira ela sem pestanejar. É cruel. É generoso. É navalha afiada. É mão que acaricia depois do tapa.

O tempo ensina, apesar dos pesares. Nos deixa recados, em bilhetes grudados à nossa mesa no final do expediente, pra amanhã recordarmos daquilo que certamente seria esquecido.

Para nos lembrar sempre de lançar sobre quem está diante de nós o olhar que ele mesmo escolheu, e fez jus a receber. Que cada pingo do nosso respeito deve ser conquistado à base de suor no rosto de quem o deseja. Pois do contrário, não conseguimos enxergar nem a metade do que está por trás dos risos fáceis e das palavras infinitas que jogam em nosso colo.

Mas a Graça é que o tempo passa.

Nossos passos vão ficando cada vez mais longos e nossos braços, mais fortes. O mundo vai ficando mais leve em nossos ombros. Quem sabe a gente deveria fechar os olhos pra tudo ao redor por um instante e perceber a evolução.

Uma dica do próprio: deixa o tempo.

Às vezes esperamos que ele passe rápido como o vento.
Às vezes torcemos pra que o relógio dure a eternidade até completar uma volta. Dedicamos o nosso pra quem ou o que quisermos, na hora que quisermos. E se não viessem o antes e o depois, talvez o agora não seria como ele é, afinal.

O tempo é o juiz. As circunstâncias jogam de acordo com as regras dele e a nós cabe o papel de peças bambeando pelo tabuleiro.

E quando as nossas próprias palavras saem de outra boca? Quando olhamos para os nossos olhos refletidos em outro rosto?
O tempo para! Contrariando a previsão de quem vai sobrevivendo sem sequer um arranhão.

E quando vazam pela boca palavras que o coração nunca quis dizer? Quando o dia seguinte vira pó?
Temos que simplesmente deixá-lo atuar. Esperar a maré subir e lavar o desenho que estava estampado na areia.

Sempre é hora de virar a página e apontar o lápis, porque a próxima aula já pode começar amanhã mesmo, enquanto o tempo sopra a vela.